quarta-feira, 15 de abril de 2009

EROTIDES DE CAMPOS


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No universo da música constam várias peças com o nome Ave-Maria. Muitos célebres são as de Charles Gounoud, de Franz Schubert, Giuseppi Verdi, Bonaventura Somma, Giacomo Puccinni. Tratam-se de melodias que ultrapassaram as fronteiras dos paises de origens e tornaram-se canções do mundo musical. A França, Itália e Áustria presentearam o mundo através dos seus compositores, com estas canções clássicas.
O Brasil também contribuiu com a sua Ave-Maria. Não no campo clássico, mas no popular. Falamos da célebre Ave-Maria composta por Erotides de Campos, nascido em Cabreúva, interior de São Paulo em 15 de outubro de 1896 e falecido em 20 de março de 1945. Compositor de marchinhas, sambas, choros, pianista e tocador de vários instrumentos, foi professor de física e química e passou parte da sua vida na cidade de Piracicaba. Em algumas composições, Erotides costumava assinar com o pseudônimo de Jonas Neves o que induziu muitas pessoas acreditarem que esse Jonas seria outro compositor, quando na verdade era o próprio Erotides.
A valsa Ave-Maria foi composta em 1924 e gravada em disco de cera por Pedro Celestino, irmão do cantor e ator Vicente Celestino. Na época não obteve consagração popular.
Mas, em 1939, o cantor Augusto Calheiros, de voz afinadíssima e dono de agudos peculiares, nascido em Maceió, em 05 de junho de 1891 e falecido no Rio de Janeiro em 11 de janeiro de 1956, gravou esta valsa e tornou-a conhecida nacionalmente. Nossos avós e nossos pais cantaram muito esta canção. Depois desta, outras ave-marias enriqueceram o cancioneiro popular brasileiro. Por exemplo: Ave-Maria no Morro, de Herivelto Martins, Ave-Maria dos Namorados, de Jair Amorim e Evaldo Gouveia e Ave-Maria Sertaneja, de Júlio Ricardo e O. de Oliveira, tão bem interpretada por Luiz Gonzaga.
Aqui, uma oportunidade para você que, porventura tenha ouvido seus avós ou pais cantarem esta canção, ou mesmo você tê-la ouvido no tempo do rádio sadio, vale a pena cantá-la, embora baixinho, para recordar um tempo bem vivido.
Esta é a letra completa dela:
Cai a tarde tristonha e serena em macio e suave langor despertando no meu coração a saudade do primeiro amor.
Um gemido se esvai lá no espaço, nesta hora de lenta agonia quando o sino saudoso murmura badaladas da Ave-Maria.
Sinos que tangem com mágoa dorida recordando sonhos da aurora da minha vida.
Dai-me ao coração paz e harmonia na prece da Ave-Maria. No alto do campanário uma cruz simboliza o passado.
De um amor que já morreu deixando um coração amargurado.
Lá no infinito azulado uma estrela formosa irradia.
A mensagem do meu passado quando o sino tange Ave-Maria
Este som de profundo mistério faz pulsar meu coração quando penso tão triste e sozinho num passado de grata ilusão.
Eu me lembro das tardes de outrora que contigo sonhava a poesia do amor que feliz te jurava ao murmúrio da Ave Maria.
Se no que tange para amenizar a saudade nos tempos que vivi a sonhar, mil venturas de suave alegria minha alma ao som da Ave Maria.
Lá no infinito azulado uma estrela formosa irradia a mensagem do meu passado quando o sino tange Ave Maria.
Cai a tarde tristonha e serena em macio e suave langor despertando no meu coração a saudade do primeiro amor.
Um gemido se esvai lá no espaço, nesta hora de lenta agonia quando o sino saudoso murmura badaladas da Ave-Maria.
Sinos que tangem com mágoa dorida recordando sonhos da aurora da vida.
Dai-me ao coração paz e harmonia na prece da Ave-Maria.
No alto do campanário uma cruz simboliza o passado de um amor que já morreu deixando um coração amargurado.
Lá no infinito azulado uma estrela formosa irradia a mensagem do meu passado quando o sino tange Ave-Maria.

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Realmente, as músicas de Erotides de Campos tem o toque imortal da genialidade

Erotides de Campos foi piracicabano por escolha e vivência, tendo nascido em Cabreúva.
Ainda menino, veio morar em Piracicaba em companhia do tio, Luis da Silveira Neves, em 1908. Desde criança, sua vocação para a música despertou a atenção de professores e da família. Aos pais, músicos e muito pobres, não escapou o talento precoce do filho, que aos 8 anos de idade, já estudava piano com Francisca Júlia da Silva, poetisa de renome e pianista, ao mesmo tempo em que cursava escola municipal de Cabreúva.
Em 1905, um padre salesiano, ouvindo falar dos dons do menino, levou-o a estudar no Liceu Coração de Jesus, em São Paulo. O seu virtuosismo na flauta, apesar da tão pouca idade, surpreendeu a todos. Mas, passando as férias em Cabreúva, em 1907, Erotides foi atacado por tifo e teve que abandonar os estudos em São Paulo.

Em Piracicaba
Chegando a Piracicaba, Erotides de Campos integrou a já famosa orquestra piracicabana que se apresentava nos cines Iris e Politeama. A orquestra, entre outros, contava com a participação de Osório de Souza, Melita e Carlos Brasiliense, João Viziolli, Renato Guerrini. Participou, também, da banda União Operária.
Estudou na Escola Normal - atual "Sud Mennucci" - onde chamou a atenção do também músico Honorato Faustino, que passou a estimulá-lo. Formou-se em 1918 e foi lecionar na escola da estação de Monjolinho, em São Carlos. Conseguiu a segunda nomeação, retornando a Piracicaba onde lecionou no Grupo Escolar de Tanquinho e, depois, no de Dois Córregos. Em 1921, casa-se com Maria Benedita Germano.
Por alguns anos - de 1923 a 1932 - ficou em Pirassununga, atendendo ao convite do então prefeito e futuro interventor de São Paulo, Fernando Costa. Mas volta a Piracicaba em 1932, nomeado como professor de Química do Curso Complementar, anexo à Escola Normal.
Destacou-se não apenas como professor e músico, mas, também, como homem voltado à caridade. Ele, com sua mulher Tita, foram os criadores do "Culto à Saudade", que criou o costume de os vicentinos, no Dia de Finados, postarem-se à porta do cemitério, colhendo donativos para os necessitados.

A obra
São mais de 230 as composições de Erotides de Campos, entre peças editadas e não editadas. São berceuses, canções, choros, dobrados, charlestons, elegias, valsas e outras formas musicais. Suas partituras foram ilustradas por desenhistas famosos, como Belmonte, Carnicelli, Valverde e Vantik. Entre os parceiros de Erotides, quase sempre autores dos versos, estão Benedito Almeida Júnior, Elias de Mello Aires, Francisco Lagrecca, Leandro Guerrini, Nilton Almeida Mello, Silvio Aguiar Sousa, entre outros.
Usando pseudônimos, Erotides de Campos acabou sendo vítima de um grande equívoco: a sua mais famosa composição, a "Ave Maria", foi composta com o nome de Jonas Neves, na verdade parte de seu nome, Erotides Jonas Neves de Campos. Isso lhe custou a retenção, após sua morte, dos direitos autorais pela SBAT (Sociedade Brasileira de Autores Teatrais). Apenas em 1985, o jornalista Luiz Thomazi conseguiu desfazer o equívoco, permitindo, à viúva Tita, usufruir dos direitos autorais.
Entre as centenas de composições, destacam-se, além da "Ave Maria", "Murmúrios do Piracicaba", Alvorada de Lírios, Uma Barquinha Azul.
Erotides de Campos morreu repentinamente, em 20 de março de 1945, quando elaborava a capa do "Cancioneiro Escolar", com músicas suas. Homem humilde, recatado, mulato, Erotides de Campos recebeu a homenagem de Piracicaba num enterro em que se revelou a comoção popular. Seu nome foi dado a uma rua da cidade, ao grupo escolar de Paraisolância e a uma sala de música o do I. E. "Sud Mennucci". No cemitério da Saudade, foi erguido um mausoléu com as primeiras notas musicais da "Ave Maria" inscritas em mármore
Em Piracicaba, foi instituída a Semana de Erotides de Campos, que tem sido esforçadamente levada à frente pelo biógrafo de Erotides, José Carlos de Moura, engenheiro agrônomo.
Fotografias
1- Erotides de Campos moço, quando estudava na Escola Normal-1921
2- Erotides (em destaque) em 1905 na Banda Orfelina, de Cabreúva
3- Erotides com Nelson Gonçalves "Ao distincto amigo Erothides de Campos, uma recordação de grata amizade. São Paulo 1 de outubro de 1936 Nelson"
4- Erotides de Campos e sua esposa no Rio de Janeiro "Rio 1 de janeiro de 1929"

Bibliografia
Memorial de Piracicaba 2002/03, de Cecílio Elias Netto
Alvorada de Lírios Obra musical de Erotides de Campos. Publicação da FEALQ Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiróz 1996 Coordenação José Carlos de Moura

Agradecimentos
Os mais sinceros agradecimentos a todos aqueles que permitiram a síntese de textos, fotos, letras e músicas, em especial ao Dr. José Carlos de Moura, ao maestro Egildo Rizzi, da maestrina Helen Sanches, Caco Piccoli e o jornalista Cecílio Elias Neto.
Uma lei promulgada em 1996 institui a Semana Erotides de Campos entre 9 a 15 de outubro, onde acontecem apresentações musicais do referido compositor.

Todos estes fatos demonstram mais uma vez o compromisso dos cidadãos de Piracicaba nas mais diferentes esferas, e outros também que não da cidade, em colaborar nas mais diversas formas no sentido de divulgar e manter à tona na memória da população o que esta cidade acobertou em seu seio com tanto carinho e que a honra sobremaneira.

sábado, 4 de abril de 2009

MANOEL MARTHO

Veja mais em:
http://www.youtube.com/watch?v=HGcprf8l_ec


MANOEL MARTHO

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Piracicaba é uma cidade quase que milagrosa.

Milagrosa no sentido de ter sido chamada de Ateneu paulista nas primeiras décadas do século XX: seu nível de ensino era um dos melhores.

Milagrosa por ser local escolhido como residência do primeiro presidente civil do Brasil.

Milagrosa por ter existido pessoa como Luis de Queiróz, quinto filho do Barão de Limeira e neto do Marquês de Valença.

Herdando as propriedades do pai, escolheu esta cidade para instalar seus negócios. Assim foi criada uma fábrica de tecidos, e Piracicaba já em 1893 possuía energia elétrica graças a este gênio empreendedor.


E seguramente o maior legado que deixou, não apenas para esta cidade, mas inclusive elemento de orgulho para todo o Brasil, foi lançar as raízes da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiróz, referência mundial em ensino e pesquisa.

Milagrosa por ter vivido um também aqui Estevam Ribeiro de Sousa Rezende, o Barão de Rezende. Os frutos de seu trabalho renderam a Piracicaba o Engenho Central, o desenvolvimento do transporte fluvial, o Teatro Santo Estevam, o ramal da Estrada de Ferro Ituana, a ponte sobre o Rio Piracicaba.

A ingerência de sua filha ocasionou a construção do Sanatório São Luiz (para tuberculosos), da Igreja Imaculada Conceição, na Vila Rezende e também estímulo no Instituto Baronesa de Rezende.

Poderíamos continuar a relacionar um infindo rol de nomes benfeitores da antiga “Villa da Constituição”. Mas nosso interesse no momento fundeia-se nos talentos artísticos que aqui nasceram, palmilharam estas ruas e deixaram suas marcas indeléveis, marcando a memória de diversas gerações.

Para iniciar esta série de personalidades, escolhemos nada mais nada menos que um pintor. Seu nome é Manoel Martho. A preferência à sua pessoa é porque ainda está entre nós. Prestar homenagem póstuma a quem quer que seja não é concludente em nossa visão. O importante é a pessoa receber os lauréis que tenha direito pelo seu desempenho, dedicação e fibra para atingir o almejado, e não seus familiares.

Optamos por Martho porque era a criança pobre, de família também nas mesmas condições. Com seus desejos e sonhos, lutava no seu dia a dia para levar alguns vinténs para casa e auxiliar na manutenção da mesma. Explorar sua jornada infanto-juvenil nos traz à mente as “Aventuras de Tom Sawyer” de Mark Twain, evocando as mirabolantes peripécias deste personagem.

Optamos por sua pessoa, pois, enfrentando todas as adversidades de uma vida atribulada, nunca deixou seu sonho morrer.


Ainda mais, nossa opção foi baseada na coragem e singeleza que teve dissecar de forma crua a nua sua luta pessoal e familiar voltadas para a subsistência. E em nenhuma ocasião de sua narrativa vemos ocorrer sequer uma palavra que possa ser encarada como queixa ou revolta de sua situação menos privilegiada que ele e sua família estiveram submetidos.

Martho formou-se professor e em 1952 assumiu a cadeira na cidade de Nova Granada, noroeste paulista. Foi onde conheceu Lourdes Vicente Santana com quem viria a casar-se um ano depois. Em 1961 fixou residência em São José do Rio Preto, onde vive até os dias atuais.
Em seu livro intitulado “Auto-retrato” (Editora Degáspari 2008 Piracicaba) podemos mergulhar neste mundo quase onírico e nos deleitar com a história de um homem que fez de seus sonhos infantis seu motivo existencial, e trilhando pelos mais diversos caminhos, com o apoio de pessoas como Prof. Leandro Guerrini e sua esposa, Eugênio Nardim, Frei Paulo, a Família Dutra e muitas outras pessoas, atingiu o ponto desejado.

Com suas cores intensas e vibrantes, retratou o mundo em que viveu e vive, ocupando seu lugar no espaço e na história. É uma mensagem de otimismo e uma lição de vida.

Por isto e tudo mais, nada mais justo que falar: é um homem que veio e venceu.


Quadros

Ressureição de Lázaro
Sermão da Montanha
Nhô Efigênio
"Casa do Povoador" de Piracicaba
P.S.
Manoel Martho faleceu em 14 de janeiro de 2011 às 17 horas, tendo sido sepultado na cidade de São José do Rio Preto, no cemitério São João Batista, às 15 hs.